quinta-feira, março 27, 2008
Magdi Cristiano Allam
Merece ser reproduzida a carta de Magdi Cristiano Allam, o muçulmano que se converteu ao Cristianismo. O texto interessa-me mais pela coragem com que põe a nú a verdadeira verdade, ou verdade desvirtuada, vivida pelo Islão. Para quem pensa que os Muçulmanos professam a Paz, a Liberdade e a Tolerância, eis uma nota de reflexão. Vivem na Idade Média, e se pudessem, fariam as suas Cruzadas. [Não adianta, pois, vir dizer que outras religiões também têm muito caminho a percorrer. Compararmos o Cristianismo com o mundo muçulmano é claramente uma ofensa à humanidade de Roma].

«Porque me converti ao catolicismo

Se não formos capazes de garantir a todos a plena liberdade religiosa, até que ponto poderemos ser críveis?

Magdi Cristiano Allam

Caro director: O que lhe vou contar diz respeito a uma decisão de fé e de vida pessoal que em nada implica o “Corriere della Sera”, de que me orgulho de fazer parte desde 2003 na qualidade de sub-director. Escrevo-lhe enquanto protagonista desta vivência e cidadão privado. Na noite de domingo converti-me à religião católica, renunciando assim à fé islâmica. Desta forma, e pela graça divina, viu a luz o fruto são e maduro de uma longa gestação vivida em pleno sofrimento e alegria, entre a profunda e íntima reflexão, e a consciente e manifesta exteriorização. Estou especialmente agradecido a Sua Santidade, o Papa Bento XVI, que me ministrou os sacramentos da iniciação cristã - Baptismo, Confirmação e Eucaristia – na Basílica de São Pedro durante a solene celebração da Vigília Pascal. Adoptei o mais simples e explícito nome cristão: “Cristiano”. Desde domingo que me chamo Magdi Cristiano Allam. Foi o dia mais belo da minha vida. Receber o dom da fé cristã na celebração da Ressurreição de Cristo das mãos do Santo Padre é, para um crente, um privilégio ímpar e um bem inestimável. Quase a celebrar 56 anos considero este momento da minha história pessoal um feito histórico, excepcional e inesquecível, uma inflexão radical e definitiva face ao passado. O milagre da Ressurreição de Cristo reflectiu-se na minha alma, libertando-a das trevas de uma doutrina em que o ódio e a intolerância perante o “diferente”, rotulado acriticamente de “inimigo”, prevalecem sobre o amor e o respeito pelo “próximo”, que é, em toda e qualquer circunstância, “pessoa”. A minha mente sente que se libertou, ao mesmo tempo, do obscurantismo de uma ideologia que legitima a submissão e a tirania no momento em que aderi à genuína religião da Verdade, da Vida e da Liberdade. Na minha primeira Páscoa como cristão não só descobri Jesus como o autêntico e único Deus, que é o Deus da Fé e da Razão.A minha conversão ao catolicismo é o ponto de chegada de uma gradual e profunda reflexão interior, a que não me pude furtar pelo facto de, há cinco anos a esta parte, ter sido obrigado a levar uma vida “blindada” – casa vigiada e guarda-costas a acompanharem-me a todo o lado – devido às ameaças e condenações à morte que pendiam sobre a minha pessoa, ordenadas por extremistas e terroristas islâmicos residentes em Itália e no estrangeiro. Senti-me, assim, impelido a questionar a atitude daqueles que emitiram “fatwas” (decretos religiosos), acusando-me – a mim, que era muçulmano – de ser “inimigo do Islão”, “cristão copta hipócrita, que se passa por muçulmano para prejudicar o Islão”, e “traidor e difamador do Islão” para legitimarem a minha condenação à morte. Perguntei-me amiúde como é que alguém como eu, que lutou convicta e determinadamente por um “Islão moderado”, que se expôs ao denunciar o extremismo e o terrorismo islâmicos, acaba por ser condenado à morte em nome do Islão mediante um decreto que se quer legitimado pelo Corão. Apercebi-me assim de que, além da conjuntura que permite a implantação do fenómeno que são os extremistas e o terrorismo islâmico em todo o mundo, a raiz do mal está inscrita num Islão que é fisiologicamente violento e historicamente conflituoso. Paralelamente, a Providência colocou no meu caminho católicos praticantes de boa vontade que, em virtude do seu testemunho e amizade, se transformaram a meus olhos em figuras de referência no plano das certezas, da verdade e da solidez dos valores. Penso em numerosos amigos da Comunhão e da Liberdade, encabeçados por D. Julián Carrón; em sábios religiosos como Gabriele Mangiarotti, a irmã Maria Gloria Riva, D. Carlo Maurizi e o Padre Yohannis Lahzi Gaid; na redescoberta dos salesianos graças a D. Angelo Tengattini e a D. Maurizio Verlezza, que culminou numa renovada amizade com o Reitor Maior, D. Pascual Chávez Villanueva; e na amizade de altos prelados e grandes humanistas como é o caso do cardeal Tarcisio Bertone, dos monsenhores Luigi Negri, Giancarlo Vecerrica, Gino Romanazzi e, acima de tudo, do monsenhor Rino Fisichella, que me acompanhou pessoalmente nesta demanda espiritual de aceitação da fé cristã. O mais extraordinário e significativo encontro deste meu processo de conversão foi, indubitavelmente, o Papa Bento XVI, a quem sempre admirei e defendi enquanto muçulmano e que, graças ao seu profundo conhecimento na hora de estabelecer o vínculo indissolúvel entre a fé e a razão como fundamento da verdadeira religião e da civilização humana, à qual adiro plenamente como cristão, me inspirou uma nova luz no cumprimento da missão que Deus me reservou. Caro director, perguntou-me se não temia pela minha vida, consciente de que a conversão ao cristianismo vai resultar em mais uma condenação à morte, desta feita por apostasia. Tem razão. Sei bem ao que me exponho, mas prefiro enfrentar o meu destino de cabeça erguida e com a solidez interior de quem está convicto da sua própria fé. A isto acresce o gesto histórico e corajoso do Santo Padre, que aceitou, desde que soube do meu desejo, ministrar-me em pessoa os sacramentos da iniciação ao cristianismo. Sua Santidade lançou, assim, uma mensagem explícita e revolucionária a uma Igreja que tem sido, até agora, demasiado prudente na conversão de muçulmanos, abstendo-se de fazer proselitismo em países de maioria islâmica e silenciando a realidade dos convertidos nos países cristãos. Uma atitude que releva do medo. Do medo de não poder ajudar os convertidos face à condenação à morte por apostasia e do medo de represálias sobre os cristãos residentes em países muçulmanos. Pois bem, hoje, Bento XVI diz-nos, através do seu testemunho, que é preciso vencer o medo e não temer a hora de proclamar a verdade de Jesus, muçulmanos incluídos. Pessoalmente, creio que chegou o momento de pôr fim ao puro arbítrio e à violência dos muçulmanos que não respeitam a liberdade religiosa. Em Itália existem milhares que se convertem ao Islão e que vivem serenamente a sua nova fé. Mas também há milhares de muçulmanos que se convertem ao cristianismo e que se vêem obrigados a esconder a sua nova fé com receio de serem assassinados por extremistas islâmicos. Num desses acasos que evocam a mão do Senhor, lembro aqui que o primeiro artigo que escrevi para o Corriere della Sera, em 3 de Setembro de 2003, se intitulava “As novas catacumbas dos muçulmanos convertidos” e versava sobre alguns neo-cristãos que, em Itália, denunciavam a sua profunda solidão espiritual e humana perante a insistência das instituições do Estado, que não tutelam a sua segurança, e o próprio silêncio da Igreja. Ora, gostaria que o gesto histórico do Papa Bento XVI e o meu testemunho fossem considerados como um sinal para sair das trevas das catacumbas e para proclamar publicamente a vontade de serem o que realmente são. Se não formos capazes, aqui em Itália, berço do catolicismo e nossa casa, de garantir a todos a plena liberdade religiosa, até que ponto poderemos ser críveis quando denunciamos a violação dessa liberdade noutras partes do mundo? Peço a Deus que esta Páscoa tenha sido sinónimo de ressurreição do espírito para todos os fiéis de Deus que tenham vivido, até agora, subjugados pelo medo.»

«Perfil
Allam nasceu no Egipto em 1952, no seio de uma família muçulmana mas nunca abraçou a fé de forma convencional. Apesar de ter ido em peregrinação a Meca desrespeitou muitos outros preceitos da fé islâmica. Incitado pela mãe, Magdi Allam vai estudar para um escola de inspiração católica no Egipto, onde se familiarizou com a cultura e civilização ocidental. O fascínio pelo Ocidente levou-o até Roma e à La Sapienza. É na universidade romana que, aos 30 anos, inicia os estudos em sociologia. No entanto, seria o jornalismo a abrir-lhe as portas da fama. Torna-se colaborador do “La Repubblica” e, mais tarde, do “Corriere della Sera”. Polémico e irreverente, notabilizou-se como especialista em assuntos do Médio Oriente. "Viva Israel"é o título do seu último livro.»

Fonte: "Diário Económico", 25 de Março de 2008.
 
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