quinta-feira, janeiro 27, 2011
O blog. Um modelo gasto?
Com o facebook as pessoas abandonaram os blogs. Faço mea culpa também mas a verdade é que o blog pode ter sido um dos instrumentos mais efémeros da digitalização da comunicação. Ainda restam alguns claro, mas enquanto fenómeno de massas ficou definitivamente para trás. É pena. Fomos tão felizes.
 
Lavrado por Ice-device at quinta-feira, janeiro 27, 2011 | Permalink | 1 Comentários extraordinários
A lição animana

Quem duvida da inteligência dos animais está longe de compreender o significado da palavra racionalidade. E mais ainda: os sentimentos do fiel amigo ultrapassam a esfera do entendimento humano. É caso para falarmos em lição animana.

O cachorro não estava ao lado da sua dona, Cristina Santana, vítima do deslizamento de terra em Teresópolis. Procurou apenas encontrar, no meio dos escombros, os seus legítimos donos. Cansado e ferido, "Caramelo", que afinal era Joe, acabou por sentar-se ao lado de uma sepultura anónima. A história, apesar de confusa no início, não deixa de ser um ensinamento.
 
Lavrado por diesnox at quinta-feira, janeiro 27, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
segunda-feira, janeiro 24, 2011
"Estupidez extrema", sim...
 
Lavrado por diesnox at segunda-feira, janeiro 24, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
Outono
E agora os portugueses - eleitores, abstencionistas e demais cidadãos - podem descansar. No Outono, há mais... Será?
 
Lavrado por diesnox at segunda-feira, janeiro 24, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
sexta-feira, janeiro 21, 2011
Votar é participar na História
As pessoas são livres e responsáveis. Em teoria são-no. Na prática, se decidem opor-se, de forma consciente e deliberada, ao exercício de um dos mais importantes direitos, que o façam, porque a abstenção também tem uma leitura. Descontentamento, cansaço, revolta, indignação, resignação, desilusão são sinais claros dessa decisão. Não deixam também de serem livres e responsáveis.
Creio, contudo, que é mais forte um voto branco ou nulo do que a preferência pela abstenção. Ir a uma mesa de voto é sempre um acto determinado e sereno. Mais democrático.
Votar é um direito, um dever, talvez, e uma oportunidade. Para sermos senhores do nosso próprio destino – ou das escolhas em causa.
Em 2006, 37,40 por cento dos eleitores não votaram na Eleição Presidencial (registando-se 1,06 por cento de nulos e 0,79 por cento de boletins brancos). Em 2011, o que conta é a sua opção. E ela constará sempre da estatística e comprometê-lo-á com o futuro da História. Não adianta convencer-se do contrário.
 
Lavrado por diesnox at sexta-feira, janeiro 21, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quinta-feira, janeiro 20, 2011
Cavaco Silva, entre o mistério e o mito
«Como disse no princípio, Cavaco inspira-me um sentimento muito próximo do horror. Um homem como ele não pode existir. E não existe: a humanidade começa na dúvida e ele não tem dúvidas. Mas não o odeio, longe disso, e descubro-me mesmo por ele uma certa compaixão. Mais dia menos dia, a realidade, que até aqui a sorte lhe permitiu ignorar, levantará a sua feia cabeça e encontrá-lo-á desarmado. Não é um destino invejável.» Este é o último parágrafo de um texto da autoria de Vasco Pulido Valente (in “Às avessas”, Assírio & Alvim, 1990), sobre o “O mistério de Cavaco”.
Estou longe de desejar um destino trágico ao próximo e, em particular, ao ex-primeiro-ministro e actual Chefe de Estado. Creio, todavia, que Cavaco Silva é a combinação perfeita de duas coisas: a simplicidade e o mistério. É um homem comum, que, honra lhe seja feita, subiu a pulso todos os degraus da vida, a partir de uma crença inabalável no conhecimento e no trabalho.
Do ponto de vista da criação da figura nacional, o líder que governou Portugal numa época de "vacas gordas" é, em certa medida, uma personagem falsamente misteriosa, mas ele sabe colher os frutos dessa construção. Há muita criatura que acredita que Cavaco é infalível. Ora, Cavaco errou tantas vezes como todos nós, nos pequenos e nos actos maiores, e nem mesmo se nascesse duas vezes, deixaria de errar.
Indubitavelmente rigoroso; honesto, sem dúvida. Teimoso sempre. Sisudo em toda linha; reservado excessivamente. Senhor de um autocontrolo absoluto e de uma pose programada. Eis os traços do homem. Acompanham-no. Fazem-no.
No que se refere à sua actuação enquanto Presidente da República, cometeu três erros relevantes: foi incoerente quando promulgou diplomas que a sua natureza recusaria per si; foi imprudente e colossalmente silencioso em várias ocasiões (quando demorou a “forçar” a saída de Dias Loureiro do Conselho de Estado, na questão da lei das Finanças Regionais – e lembro-me de fazer uma comunicação ao pais, em pleno Verão a propósito deste assunto menor - e no episódio das escutas a Belém). Foi muito benévolo com os retalhos de uma governação falsa e ruinosa, porque acredita na estabilidade dos sistemas e no princípio separação de poderes. A autodesignada “magistratura de influência” foi , deste modo, uma “magistratura de conivência”. Não se pode estender e preservar ao máximo a estabilidade política, quando está em causa o normal funcionamento de um Estado-povo – e não das suas instituições – ao ponto de, numa repetição histórica, finalmente (?) percebermos que precisamos de arrumar a nossa casa com as regras que acabarão por ser definidas pelos outros – o que nem é assim tão irracional, se atendermos que são os credores que mantêm Portugal a funcionar. Se nos emprestam os recursos – e em 2011, vão ser necessários 50 mil milhões de euros – é natural que queiram saber o que vamos fazer com tais recursos e, sobretudo, como iremos devolvê-lo com juros.
Nesta campanha, Cavaco tem feito uma volta organizada e popularmente mobilizadora. Sinal menos: com a ajuda da má escolha jornalística, a jornada tem sido pouco esclarecedora, nada pedagógica – e nesse domínio, Cavaco nem sempre tem ajudado, porque um dia prepara-nos com uma crónica de uma crise política anunciada e, noutro, esvazia a fome de culpa colectiva, avançando que “tem pouco apetite para a dissolução”. Ora, a bomba atómica e pur si muove
Tempos houve em que graças ao filho de Boliqueime, o rectângulo avançou, cresceu, acreditámos que era possível suplantar o pessimismo-saudade. E hoje? Hoje, “Senhor, falta cumprir-se Portugal! (Fernando Pessoa, in "Mensagem").
Pontuação final: 16 valores.
 
Lavrado por diesnox at quinta-feira, janeiro 20, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quarta-feira, janeiro 19, 2011
Manuel Alegre, o mais monárquico dos republicanos
Em 2006, Manuel Alegre obteve 20,72 por cento dos votos. Cinco anos depois, a questão impõe-se: conseguirá Alegre alcançar um resultado que o projecte para uma segunda volta ou, no pior cenário, suplante a votação de 2006? No primeiro caso, a resposta é liminarmente negativa. Quanto à segunda hipótese, tenho sérias reservas, até porque Fernando Nobre irá amealhar votos desse campo, e poderá roçar o segundo lugar.
A campanha de Alegre foi alimentada de um rol de casos forçados. Alegre quis ingenuamente minar a credibilidade de Cavaco, colando o professor de Finanças ao caso BPN. No entanto, o feitiço virou-se contra o feiticeiro e rapidamente as confusões direccionaram-se para o lado do poeta. Um texto publicitário para o BPP – e é curioso que os bancos acabem por dominar uma eleição que devia ser iminentemente política – foi a embrulhada mais marcante.
A colagem de Alegre ao PS é inevitável: é um militante do Largo do Rato, é, para o bem e para o mal, um dos cúmplices da governação que tem arruinado a pátria (substantivo tão caro a Alegre). Querer demarcar-se do que o PS faz, revela, não só falta de solidariedade, mas também um oportunismo descarado. Não é esta a ética que era suposto a República promover! Inquestionavelmente, foi deputado até 23 de Julho de 2009 e essa qualidade torna-o mais do que mero espectador da crise estrutural que nos assola: é um obreiro da desigualdade e da incompetência.
Pormenor político: antes sequer do apoio do PS, o conselheiro de Estado obteve o abraço fraterno do BE. Estranho que seja a força mais pequena a definir a estratégia do partido-mãe de Alegre e de dimensão superior. A estratégia de Sócrates – se é que alguma vez houve – passou a ficar condicionada a esta antecipação bloquista.
E chegamos ao ponto crucial: o homem. Quem é biograficamente Manuel Alegre? É uma produção by imprensa proto-chique e acéfala. Nunca soube desligar o poeta do político: o fazedor de letras é interessante; o pensador e político é banal.
Mais ainda: do ponto de vista humano, os seus genes dominantes são a vaidade, o snobismo, o narcisismo, a auto-adulação. Alegre é na acção o mais monárquico-aristocrata dos republicanos - nos gestos, na pose, no discurso.
Não adianta a dramatização: os eleitores vão querer penalizar o Governo e Manuel Alegre, bloquista, socialista - e independente, quando dá jeito -, vai levar uma vassourada. Que a poesia o ampare depois da anáfora eleitoral.
Pontuação final: 13 valores.
 
Lavrado por diesnox at quarta-feira, janeiro 19, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
terça-feira, janeiro 18, 2011
Francisco Lopes, o filho do po(l)vo comunista
O homem é do povo: chora, distribui panfletos, molda vidro e desbobina a cassete que o PCP gravou há décadas. Onde quer que vá, Francisco Lopes tem uma tarefa determinada: preservar o voto tradicional do PCP (ou CDU= PCP + PEV). Limita-se a cumprir um calendário eleitoral, corre os mesmos locais da família comunista, e tenta afugentar o fantasma de tantos candidatos da mesma área.
As campanhas do PCP seguem a mesma cartilha, desde que temos eleições livres em Portugal. Mais previsíveis que os indianos que vendem flores nos restaurantes e se aproximam das mesas com damas e cavalheiros.
Francisco Lopes, o candidato eleito, podia ser José Oliveira ou Manuel Ferreira, um qualquer membro do PCP, desde que constasse do Comité Central.
Aparenta ser um homem bom e solidário – o que é uma virtude incomum nos nossos dias –, mas o nevoeiro da ideologia comunista apaga toda a humanidade que o mais racional dos seres possa aportar.
O principal equívoco de “Chico” Lopes é atribuir a Cavaco Silva uma responsabilidade dos males de que incontestavelmente padecemos, quando, numa franca interpretação, sabemos que Cavaco optou pelo princípio da estabilidade – o que não o isenta de parte da factura. Clarifiquemos: tudo que está mal tem como autores todos - as elites, as massas, os partidos, a sociedade, os poderes, os subordinados, o Estado, a administração, as autarquias, as corporações. Até o PCP não pode furtar-se a tal julgamento democrático.
E hoje: estaríamos melhor se tivéssemos optado pelo Pacto Soviético? Basta comparar o que resta do modelo pela Europa Central, para vermos o atraso e a paragem no tempo.
Francisco Lopes pretende que todos aspirem “a uma vida melhor”. E, naturalmente, há dois caminhos: o democrático e o comunista. Alguém me convence que o PCP é, na sua praxis, um partido democrático e de homens livres? A liberdade é um conceito demasiado sério para ser trocada por uma visão foice e martelo.
Por isso, o projecto que Francisco Lopes promove é o das estátuas derrubadas, de ferro que a história fundiu, mas com muita escória siderúrgica ainda por aproveitar. Com tantas feridas. Pensarmos numa República dominada por camaradas de um Comité Central seria o golpe derradeiro num regime doente e, sobretudo, a negação, dupla, tripla, contínua e infindável, da História.
Pontuação final: 14 valores.
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, janeiro 18, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
segunda-feira, janeiro 17, 2011
Fernando Nobre, a mão invisível de Mário Soares
O mundo é um lugar injusto. Esse palco longínquo é o campo de Fernando Nobre: da injustiça, miséria, crueldade. Felizmente Portugal não é um campo de refugiados, mas já é um terreno fértil em desigualdades. Longe, ainda, de ser um campo de minas, pilhagens ou de cólera. Mas, sem dúvida, eira de atraso, novo-riquismo e mediocridade.
Quando penso em Fernando Nobre, como qualquer eleitor, associo-o à causa humanitária. O médico que larga tudo e abraça, com destemor, o Inferno na Terra. Desta vez, não existe o sentimento desprendido ao outro, mas uma missão programada, direccionada. Nobre está nesta campanha como a criatura que Mário Soares quis. Não um pau mandado, mas, literalmente, a personificação da vingança do fundador do PS, a Manuel Alegre. Tanto o autor moral – Soares – como o material – Nobre - querem retirar votos ao poeta, ou não fossem camaradas de um socialismo de saco de gatos. Todos lá dentro, para ver quem malha em quem. Com garras afiadas e olhos bem abertos.
A simplicidade da mensagem compensa, por vezes, o desconforto nervoso do candidato. É mais fácil salvar uma vida humana que enfrentar as câmaras, não é? Mas primeiro estranha-se, e depois Nobre entranha, absorve o meio. Devagarinho, de canto em canto mais familiar, de jantar em jantar intimista. É esse o trabalho que faz a formiga na lenda de La Fontaine.
O abraço ao "povo anónino" pode tornar-se numa surpresa no dia 23 de Janeiro, não ao ponto de ferir a reeleição de Cavaco Silva, mas de arranhar a vaidade de Alegre. Alcançar uma votação que supere todas as previsões dos estudos de sondagens, pode ser, no mínimo, uma ferroada para muitos. Sem dó nem misericórdia.
Pontuação final: 15 valores.
 
Lavrado por diesnox at segunda-feira, janeiro 17, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
Defensor Moura, o candidato da Agonia


O que tem em comum o prédio Coutinho e Defensor Moura? O primeiro é um erro de planeamento; o segundo, de casting.
Ainda não encontrei um motivo acrescido para esta candidatura, salvo a legítima pretensão pessoal. A sua expressividade eleitoral vai centrar-se em Viana do Castelo, como seria de esperar, porque o seu resultado será insignificante.
Defensor Moura tenta, a todo o custo, alimentar os casos que envolvem os adversários. Procura contaminar o “ar que os outros respiram”, para daí lhe darem a atenção. Forçada. Centra-se na crítica permanente e marcação cerrada ao actual inquilino do Palácio Belém. Lança uma diatribe à política, aos políticos, aos outros, como se um candidato à Presidência da República não fosse, ele próprio, também um actor da coisa pública.
Na entrevista concedida ao “Diário de Notícias”, de 17 de Janeiro, comete um pecado capital, e logo na primeira pergunta. […] Sempre fui eleito pelo PS, mas a partir do dia em que fui eleito deixei de ter partido - e tratava por igual as juntas de freguesia de quatro partidos diferentes. […] Ou seja, durante 16 anos foi autarca do PS, homem da política, e desde que abandonou funções, a política já não interessa? Uma coisa é admitir que a política não está a funcionar, ou que é preciso mudar muita coisa, outra é querer apagar-se a história, e servir-se dos factos e oportunismo do momento, de acordo com o que é politicamente correcto, para captar descontentes e desiludidos.
O abuso torna-se em contradição quando Defensor reitera a causa da regionalização, para como preconiza, “libertar a criatividade e o dinamismo dos agentes culturais e sociais e para aproveitar e coordenar os investimentos públicos”. Ora aí está, uma ideia curiosa de alguém que já em 1998 foi activista pró-Regionalização. Mais uma camada para administrar 90 mil quilómetros quadrados?
Detentor do brevet de Piloto Particular de Aeroplanos, Defensor Moura devia perceber que é preciso não perdemos o sentido de orientação, de ligação com o terreno. Em vez de um candidato contra qualquer coisa, podia ter-se afirmado como o condutor da afirmação pela positiva, de ideias, de propostas, enfim, da diferença. O seu lema é realmente sintomático: "Contra a resignação". Não podia ser antes com outra preposição? "Contra" soa a anarquia.
Enfim, um candidato da agonia.
Pontuação final: 13 valores.
 
Lavrado por diesnox at segunda-feira, janeiro 17, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
domingo, janeiro 16, 2011
José Manuel Coelho, o ex-ardina do Avante!


Presidenciais 2011. Iniciamos, hoje, um ciclo de curta análise aos sete candidatos. Serão seis em carne e osso mais um, a democrática abstenção.

José Manuel Coelho não tem nada de original, é a cópia de tantas criaturas do universo cómico. Age com base numa campanha de momentos de BD, ou de Inspector Gagdget, ou de Family Guy.
É um excêntrico, mas, ao contrário do anúncio, longe de ser milionário. Seja discursando em cima de um carro funerário, seja oferecendo um submarino a Paulo Portas. O Imaginarium de Coelho é do tamanho de uma loja de brinquedos: corre de toca em toca, produzindo episódios recambolescos e irreverentes. É um one show man, e os media comem deste coelho (à) caçador de piadas.
O Brasil teve o seu Tiririca, e este está longe de ser um palhaço, q.b. genuíno e nada inocente. É um mágico da demagogia, um campeão dos jogos de magia. Ainda não percebi muito bem como é que um comunista ferrenho, daqueles que ganhava viagens à URSS por ser o melhor vendedor do Avante!, se torna no rosto do PND-Madeira – o que quer que a sigla agregue.
Aos 58 anos, já tem idade para ter algum juízo. Se é verdade que para se ser presidenciável é preciso ter 35 anos – condição, aliás, incompreensível – a partir de agora, qualquer criança devia poder juntar 7500 assinaturas para si própria ou para um irmão gémeo.
Não me admira que possa vir a ter mais votos que Manuel Alegre na Madeira – a terra que verdadeiramente interessa a Coelho. Admira-me, sim, que os médicos receitem tantos ansiolíticos, quando temos um cromo destes nos canais em sinal aberto.
Pontuação final: 14 valores.
 
Lavrado por diesnox at domingo, janeiro 16, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
sexta-feira, janeiro 14, 2011
O Brasil a diluviar-se
Mais fotos aqui

Não conheço o Brasil como gostaria, apenas como posso. Visitei-o apenas três vezes. E recordo-me como se fosse hoje: uma das piores impressões à chegada foi o caos no ordenamento das cidades. Caos é eufemismo. Um caos babelesco, de ruas e vielas povoadas de edifícios de tijolo e betão – imaginem as construções embargadas ou projectos de construtores falidos em Portugal, mas como norma. As casas, de estrutura e acabamentos débeis, rodeadas de equipamentos precários; sem saneamento, estradas esburacadas, quase bombardeadas - as BR são assustadoras, estreitas; a EN1, em comparação, é uma estrada de topo.
E agora pensemos no Brasil do interior – que vi pouco -, dos morros, das cidades de betão frágil nas encostas dos montes, cidades inteiras. Esse Brasil está a diluir-se, a diluviar-se. E com uma administração pública, estadual, federal e local vulneráveis à corrupção, era natural, numa correlação com a força da chuva, que os deslizamentos, as cheias, as inundações, a destruição irrompessem à velocidade das enxurradas, levando consigo o homem, o autor e a vítima principal deste crime.
O urbanismo e o ordenamento existem precisamente para que tragédias como estas não assumam contornos de catástrofe, se atenuem, pelo menos, na sua cruel dimensão. Com a perda de vidas, que nenhum técnico saberá repor.
 
Lavrado por diesnox at sexta-feira, janeiro 14, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quarta-feira, janeiro 12, 2011
África nas Caraíbas

Um ano depois do violento terramoto no Haiti e a ilha continua debaixo de pedras. A insula é uma espécie de corno de África nas Caraíbas, doente, tremendamente pobre, ainda com vudu mas sem pão, e mais feiticeiros do que cuidados médicos. Para a estatística figuram os 230 mil mortos; para a geografia, conta o terramoto de 7.0 na escala de Richter; para a história do mundo civilizado, sobressai a lição do esquecimento, que é a imagem de referência.
Se dúvidas houvesse de que, além da cólera, violência e miséria, há um Estado que precisa de lei, e um povo que merece tudo além do sabor cruel dos elementos, e talvez, numa manhã em que o sol regressa a Lisboa, ousássemos pensar que o mundo é, para uns, terrivelmente ingrato. A honrosa excepção é dirigida às agências humanitárias que procuram, com a arte que o terreno permite, contrariar o cenário dos 365 dias depois do abalo. Que começam do nada, repondo as pedras onde antes se encontravam, como um puzzle que se prolongará por um intervalo longo e doloroso.
 
Lavrado por diesnox at quarta-feira, janeiro 12, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quinta-feira, janeiro 06, 2011
Sylvie van der Vaart
Quem disse que as meninas não podem dar toques na bola? Outrora Marias-rapazes, hoje estrelas de publicidade e jogadoras dentro das quatro linhas. Tomem lá machos...


 
Lavrado por diesnox at quinta-feira, janeiro 06, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
terça-feira, janeiro 04, 2011
Pulseirinha de Polichinelo
Bem podem comprar 10 milhões que nem assim se chegará a um ponto de equilíbrio por cá, seja no que for. Será mais fácil pedir ajuda ao Polo Norte, e à força gravitacional, e ao Bundesbank...
Haverá tanta alminha, jet 7 e jet anónima, que comprou a pulseira PowerBalance, que o mais que pode fazer é passar a ter juizo daqui em diante.
Volta e meia e vem o elixir da eterna juventude, que os filmes do Oeste e As Aventuras de Tom Sawyer já nos haviam alertado.
E desde há uns tempos, era a borracha colorida que se enrola no pulso de gente gira e in, sei lá... Até a empresa que a criou, admite, afinal, que a coisa é logro, criação de publicidade de Polichinelo.
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, janeiro 04, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
If, por Rudyard Kipling
Quadro: O Velho Moinho (1888), Vincent van Gogh

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!


[em língua portuguesa, numa tradução de Félix Bermudes - a que mais aprecio].

Se...

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu
risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio, a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos...

Então, óh ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, janeiro 04, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários