terça-feira, junho 28, 2011
A Grécia de Prometeu

«O que estão a fazer à Grécia é uma vergonha», sem dúvida. Mário Soares tem razão. Diria até que o que estão a fazer à Grécia é semelhante ao que os corvos faziam todos os dias ao fígado de Prometeu.
As instituições europeias, tal como as lideranças políticas dos Estados-membros, nunca souberam o significado da palavra Europa. Da Grécia, sabem uns recortes de Filosofia e restos históricos. Podem fazer os cruzeiros que quiserem, que a Grécia não se conhece no luxo e nos banquetes assépticos.
Apenas não concordo com a argumentação de Mário Soares, que aponta culpas aos governos conservadores. A responsabilidade está além das ideologias, está no sangue desta geração de deslumbrados e medíocres. E isso é transversal ao Velho Continente.
Toda a Europa precisa de ser revista: as instituições, as políticas, os modelos, os sistemas e demais mecanismos que levam ao derrube do projecto europeu. Pensar que a expulsão, ou convite ou saída forçada de Atenas da união monetária é um desfecho a prazo, significa aceitar de ânimo leve que todos falharam. Remar contra a maré e ajudar os Gregos não é um mero dever, é um imperativo categórico. Ainda vamos a tempo?
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, junho 28, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
sábado, junho 18, 2011
Farmville na Avenida da Liberdade

Portugal tem um mega pic-nic, hoje. Na Avenida com as lojas mais caras do prêt-à-porter do Portugal de serviços, plantaram uma horta nacional. Há quem lhe chame festa do campo e uma iniciativa que responde a um desígnio nacional. Uma famosa cadeia de supermercados patrocina a produção lusa - a mesma que ignora ou paga a muitos dias de atraso - e a Câmara Municipal de Lisboa, de cofres vazios, arrecada 100 mil euros. Parece que com este farmville de Lisboa, os alfacinhas já sabem distinguir uma alface de um nabo.
Estes eventos são demasiado folclóricos e se alguma lição retiro deste espectáculo, que o serviço público a caminho da privatização decidiu patrocinar, é que as pessoas gostam do campo, mas conhecem-no pouco. Nada. Bastava trocarem a praia durante um fim-de-semana por uma deslocação aos aromas reais de fora da cidade (Lisboa-Oeste, por exemplo). E podiam sentir Cesário Verde, sem ser em cima do alcatrão (com poemas eróticos e autênticos e não os jingles do pop star Tony Carreira).

De tarde, Cesário Verde
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
 
Lavrado por diesnox at sábado, junho 18, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
sábado, junho 11, 2011
Os discursos do 10 de Junho e a Constituição

Os discursos do 10 de Junho são receitas de culinária velhas, gastas e enfadonhas. Não trazem nem “gosto” nem “estética” arrebatadoras. São, infelizmente, e cada vez mais, a celebração do dia de um Portugal falido e descerebrado. Quando falam em “orgulho” – sentimento vago e vazio – por Portugal, não sei do que falam. Prefiro antes amor ao que resta de uma nação desencontrada e com tamanha multidão equivocada. Pensar, por exemplo, que a Constituição é mais um mal que nos bloqueia é falhar redondamente no alvo, desconsiderando o que somos. Desde 2 de Abril de 1976 que já fizemos sete revisões constitucionais. SETE. E será que a oitava vai tirar-nos do buraco? Podemos obviamente actualizar o texto constitucional e aproximá-lo de um tempo veloz e exigente, mas não será esse o caminho essencial para sairmos da tragédia. Por exemplo, para que a Justiça funcione é preciso combater, de uma vez por todas, o corporativismo e o pedestal das classes envolvidas, simplificar as leis mal redigidas e confusas, reduzir prazos, baixar os custos - só há Justiça quando todos podem acedê-la como um direito fundamental -, e sobrepor a substância das decisões sobre os mecanismos processuais (basta ver em tantos casos por que se safam os prevaricadores). E talvez aí consigamos chegar a algum porto seguro. Antes do próximo 10 de Junho.
 
Lavrado por diesnox at sábado, junho 11, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
terça-feira, junho 07, 2011
"Va pensiero" ('Nabucco', Giuseppe Verdi)
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, junho 07, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quinta-feira, junho 02, 2011
Aposta final: o povo decide

Fazem-se apostas para saber quais serão os resultados das eleições legislativas de 2011. Como não sou um apostador de lotarias, direi apenas que no próximo Domingo começa uma nova era na política em Portugal. Uns saem de cena, outros iniciam um novo projecto, em tempos verdadeiramente exigentes.

Parece incontornável: José Sócrates estará de saída: do Governo, do PS e da ribalta. Terá pela frente a sua travessia no deserto e terá mais tempo para saborear notícias que encherão as primeiras páginas dos jornais. E o PS terá que encontrar um novo secretário-geral: ou Seguro ou Assis, o homem que se segue.

Francisco Louçã poderá provar, pela segunda vez, o veneno da derrota amarga (a primeira, foi nas Presidenciais). O BE poderá procurar um novo coordenador, ou até reeleger o professor do ISEG. Certa, é a trajectória descendente do “cluster” ideológico "trotskista", com vantagem para a corrente miguel-portista.

Jerónimo Sousa poderá segurar a foice e o martelo com o mesmo pulso com que controla o comité central do PCP. Sem que lhe tirem o bife do lombo!

Paulo Portas poderá chegar aos 12 por cento, e, no mínimo, confirmar que é um dos mais bem sucedidos líderes políticos do Portugal democrático.

Pedro Passos Coelho será o líder do XIX Governo Constitucional e Primeiro-Ministro de Portugal. Por mérito próprio.

Vote em consciência, sim, com a noção de é solidariamente responsável com o destino dos acontecimentos políticos, económicos e sociais de Portugal para os próximos dez anos.

Podemos fazer as apostas que quisermos, mas não podemos desperdiçar a oportunidade única de sairmos da bancarrota e de voltarmos à Razão.

 
Lavrado por diesnox at quinta-feira, junho 02, 2011 | Permalink | 0 Comentários extraordinários
quarta-feira, junho 01, 2011
"In media res"?

Por uma vez na vida, concordo com o bastonário da Ordem dos Advogados. A aplicação da medida de coacção mais grave à alegada agressora de uma rapariga e alegado autor de um vídeo publicado no youtube constitui uma decisão desproporcionada, direi antes, bárbara e protomedieval. Merecem uma punição os autores, sem dúvida, mas não encontro motivos substanciais e concretos que justifiquem a prisão preventiva.

Cada vez menos me surpreende um sistema judicial que há muito está falido, em estado avançado de bancarrota ético-jurídica. Os adolescentes ainda vão a tempo da recuperação social, mais do que um criminoso de sangue. Fazê-los aguardar entre grades, face à "especial perversidade e censurabilidade" fundamentada pelo magistrado é, para mim, uma opção errada e contrária a um modelo que deveria ater-se mais na lei do que à convicção de um juiz.

Um dia teremos de repensar e de refazer as leis e a sua aplicação imediata. Um dia muito breve. E para que servem as prisões? Para darem uma lição a ainda adolescentes e delinquentes, ou para acolherem os verdadeiros criminosos que pululam o Estado de Direito?

 
Lavrado por diesnox at quarta-feira, junho 01, 2011 | Permalink | 1 Comentários extraordinários