sábado, setembro 30, 2006
adeus barcelona...
7 computadores ligados entre rede para jogar um jogo de estratégia. está foi a minha última noite em barcelona. isto espelha um pouco o que poderia ser o meu futuro se tivesse decidido ficar nesta cidade... um freaky de primeira! voltarei...
 
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sexta-feira, setembro 29, 2006
Such a big ad...
Para quebrar um bocadinho a melancolia...»»
 
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Hugo Chávez

«O Diabo passou ontem por aqui, este lugar ainda cheira a enxofre». O autor da frase é mais que uma estrela pop; é um exemplo da insanidade, ainda que, por vezes, acerte no conteúdo, mas erre no método. Mas não se pense que Hugo Chávez é um homem estupidamente louco. Sabe o que faz. Tem consciência do que diz. O cartaz, onde se vê o presidente venezuelano ao lado de Sócrates, não é assim tão oco. 600 mil portugueses vivem na Venezuela. E votos são votos. Imagino a fúria do PM ao saber que é um senhor estando ao nível de Fidel Castro, Mahmud Ahmadinejad e Alexander Lukachenko. Há imagens que incomodam mais que o enxofre.
 
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como tudo o que começo e nunca acabo...
13h. O corpo desperta sozinho. Os vapores alcoolizados da noite anterior ainda viajam dentro do estômago, subindo suavemente até serem expulsos pela boca. O desagradável sabor a ressaca, a ligeira dor de cabeça e a vontade de ficar na cama contrastam com uma estranha boa disposição. Play. A repentina dose de adrenalina positiva injectada pelo som de uma canção de Divine Comedy faz com que Mário se levante, com uma energia fora do comum para um sábado. I fall for this season every time, When it's hot and everybody smiles, I can't help myself, I'm in love with the summertime, canta, com irónica alegria, Neil Hannon. Banho quente. Muito quente, com final frio. Muito frio. O negro da roupa assenta-lhe como uma luva à pele branca da cara. Dá-lhe profundidade intelectual, pensa! Já cansado do bom humor muda de disco para equilibrar a mente. Aprendera a não confiar demasiado na felicidade. Aprendera a não confiar demasiado.

Sai de casa. Apenas dois lances de escada, um espelho ameaçador e uma porta pesada separam-no da longa rua molhada. Avança rápido, com uma passada controlada e confiante. Desvia-se dos transeuntes. Vai contando os passos até ao destino final. Um velho café com ares de respirar a memória da rua.

Conhece o empregado de balcão, repetindo-se o ritual diário sem palavras que transforma o gesto de cabeça num café. Sem açúcar.

Entre notícias, a vontade de recuperar um vício há muito deixado e a borra de café, onde um futuro se espelha indefinido e indecifrável, vai-se lembrando do amigo. Vivia na eterna Lisboa triste, da viagem de cacilheiro onde a silhueta das sete colinas adormece, em tons de laranja, ao ritmo de um sol preguiçoso, sem vontade de a abandonar ao acaso.

Sem resistir mais, pede um cigarro à fumadora compulsiva da mesa ao lado. Obrigado. Para essa decisão também contribuíra a figura estilizada da mulher, com uma perna debaixo do rabo e cabeça apoiada sobre dois dedos, enquanto o polegar acariciava o aparentemente delicioso lóbulo da orelha.

Detestava a cidade, dizia-lhe, constantemente, Hugo: a impessoalidade, a tristeza nos olhos dos passageiros do metro, o insignificância que tudo tinha à sua volta. Mário respondia-lhe que os significados não eram mais do que a importância que uma pessoa dava a um objecto. Mário, adorava Lisboa. Não era só a luz e os passeios por Alfama, subindo até ao Castelo onde a vista contemplava uma cidade de bairros e destinos. Eram as ruas de calçada, era o velho eléctrico, era a roupa estendida no Bairro Alto, era o homem elefante do Rossio. Eram os loucos. Lisboa era provavelmente a cidade com mais loucos por metro quadrado que conhecia. O medo e a ternura que esses seres deambulantes e de discursos surrealistas lhe criavam, resultavam essenciais para se sentir normal. Ao mesmo tempo era invadido por um secreto desejo de alguma vez chegar a ser um deles.
 
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quinta-feira, setembro 28, 2006
que é feito da antiga circunferência vermelha no canto superior direito...?
dois idiotas. duas bailarinas. muitas horas. muito dinheiro. buenas noches y buena suerta desvirtua, nas noites da antena 3, o controverso programa de informação da cbs que se enfrentou ao senador McCarthy. oferece-se dinheiro em troca de telefonemas. entre guiões histéricos e coreografias sacadas de um bar de strip rasca, a caminho da galiza, eu aconselho os telespectadores a ligarem para as linhas eróticas de qualquer jornal diário de província.
pelo menos duas gordas tentam excitar-te enquanto emborcam o nono whopper menú deluxe do dia com batatas gigantes e coca-cola, qual substituta dos líquidos vaginais.(oh man... you did it again. you crossed the line... that image was way too obscene) a ilusão do prazer sempre é mais compensatória, que estar em linha de espera, durante meia hora, enquanto uma melodia monofónica reproduz (ou mata se preferirem) o bolero de ravel.
 
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so they really existed
sabem essas coisas que procuramos durante um infinidade de tempo e nunca encontramos. até que na mais inesperada situação, umas compras para o meu mestre de cerimónias, por exemplo, ali estão... uns quantos. primeiro não acreditamos. pensamos que são de côco. depois aproximamos os olhos arregalados... e arregalamos mais. depois pensamos se a memória não nos prega armadilhas... bem, sabemos que prega... mas temos uma recordação tão boa que não resistimos... e acabamos por comprar uns donnettes de açucar glacé. pequenos donuts de rápido consumo que não encontrava à venda em nenhum supermercado nos últimos 5 anos. a memória prega mesmo partidas. mas comeram-se bem.
 
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quarta-feira, setembro 27, 2006
Passarolas voadoras

Eu vi-os, ao perto, em estado bruto. Despidos, gigantes, desmontados, reparados, envolvidos por um plástico transparente. [Pairava no ar um cheiro maravilhoso a querosene.] Apeteceu-me levar um para casa. Só um. Uma missão impossível: pelo tamanho, pelo peso, pelo preço. Da próxima vez, quero saber se aquilo é mesmo para reinstalar e se vão seguir as leis da Física!
 
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o mundo ficou sem pés
são 3 e 18 da manhã. barcelona. uma casa suja a cheirar a peixe. hoje dei um passeio grande. comecei na sagrada família. desci pela carrer marina. gran via de las cortes catalanas. arco do triumfo. onde me sentei e decidi pensar. havia uma tailandesa. não sei bem... era como uma chinesa, mas mais morena. perfeita. queres passear. quis perguntar. não o fiz. não foi isto que eu quis. e na verdade não sei se conseguia ter feito melhor. foi o que aconteceu. apenas. triste. a pergunta que mais vezes se me ocorre é: por que é que nunca fui bom jogador de arcade games. nem bom jogador de futebol. corro muito. como se fugisse. fujo.
 
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sexta-feira, setembro 22, 2006
Sitcoms
Aqui vai o meu ranking das 10 melhores sitcoms que eu vi até hoje. É obviamente uma opinião pessoal e algumas tão antigas que já nem me lembro do nome das personagens. Aqui vai:

1 - Yes Prime Minister Se me obrigassem a ver 50 episódios de alguma série, bem... seria esta. [faço anos brevemente se alguém quiser dar-me a colecção completa...] Os diálogos são muito inteligentes e os meandros ironizados da política prendem o espectador. O primeiro-ministro britânico é um homem de bem que luta constantemente para vencer a raposa velha Sir Humphrey, o seu próprio secretário, que faz tudo para manter o status quo no nº 10 da Downing Street..

2 - Allo' Allo! Tenho a certeza que se houvesse uma votação para eleger a melhor sitcom de todos os tempos esta fantástica recreação da Segunda Guerra seria a vencedora. Humor inglês ao melhor nível nas aventuras de René um pobre e mulherengo dono de um café na França ocupada pelos nazis. Inesquecível a voz esgalhada da mulher dele a cantar, dos desgraçados aviadores ingleses que nunca voltam a casa, do nazi gay e do inefável " it is I Leclerc!"

3 - The Simpsons Apesar de ser em desenho animado, esta sitcom revolucionou o humor e trouxe espetadores adultos para a animação. Uma família americana típica e gags hilariantes de nonsense e paradoxos. Do mesmo realizador: Futurama.

4 - The Nanny Uma ama americana e espalhafatosa vai cuidar de uma família very british. Todos as personagens são boas, mas o mordomo é sem dúvida a melhor.

5 - 3º calhau a contar do Sol Quando 4 extraterrestres vêm viver para o nosso planeta espalha-se o pânico. Ou não. Ou não. A minha personagem preferida é o tipo que ocupou o lugar extra e que não devia estar na missão.

6 - Alf O Alf é um marco na vida dos anos 80. O sucesso que aquele extraterrestre viciado em pizza alcançou é merecido. Sempre achei que apesar de aparentemente não gostar dele, a mulher da casa [esqueci-me do nome] tinha um fraquinho por ele.

7 - Perfect Strangers [obrigado Mosqueteira]. A história de um aldeão [Balki] que vai de uma remota ilha na Grécia até Los Angelis onde mora um primo afastado que nem sequer sabe que tinha raízes gregas. É um brilhante choque de culturas!

8 - Blackadder Mr. Bean também fala. Em Blackadder até fala demais. O ponto alto são sempre as comparações enormes e desastrosas que os diálogos trazem. Puro nonsense.

9 - Dharma e Greg Dharma é sentimento , Greg é razão. Um casal polar e sempre divertido. E para mais a Dharma é tãooooooooooo gira!

10- Good Morning Miami Uma estação de TV em Miami e uma cabeleireira que é disputada pelo director e pelo apresentador estrela da Televisão.

11 - Outros: The Office, Ellen, Friends, What a Family, Cheers, Quem sai aos seus, Spin City, tantos....
 
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quarta-feira, setembro 20, 2006
Gordon
É a palavra eleita de Quarta-feira pelos media. O furacão chama-se Gordon. Podia chamar-se Souto Moura ou Pinto Monteiro. Mas não! Teve direito a nome de herói da BD. Será que o cientista que o baptizou se inspirou em Flash Gordon?

Deixem o furacão em paz! Não me atrevo pronunciar mais que uma vez o seu nome. Como se pudéssemos tratar por tu tamanho fenómeno. Não fulanizem o nome, porque a natureza foi indulgente com os Açores. Pelo menos desta vez...
 
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sábado, setembro 16, 2006
4 mil kilómetros, vaquinhas a pastar e um policia mau

Viajar por alguns países da Europa deixou um sabor a "quero mais!"

1 - Na primeira noite ficámos, [eu e minha minha adorável e maravilhosa co-piloto que por total coincidência é namorada, ehehe] num hotel em França no meio dos Pirinéus. Tudo bem até aqui não fosse o facto de naquela aldeia não se ver vivalma. A única senhora que vimos naquela noite foi a dona do hotel que tinha um pavimento a ranger. O hotel, ok? Juro por Deus que ela me pareceu uma assassina em série que decapitava os hóspedes com um machado durante a noite.

2 - Ia sendo preso no dia seguinte. Como bom português parei o carro na berma para tirar uma foto das montanhas. Eis senão quando, vem a polícia e pára uma velha Renault Trafic: "vous étes fous? Quoi?". Para quem costuma ficar de fora de todos os conflitos mundiais, nunca pensei que houvesse algum vestígio de testoesterona em França além da do Floyd Landis. Mas havia. estava espalhada nos olhos azuis daquele tipo.

3 - Aix-en-Provence: no acampamento, à saída, dei um toque com o meu mégane: pára choques estalado. Não se nota muito, mas magoei o meu bichinho..... dor!

4 - Mónaco: o ponto alto de uma vida. Fiz metade do circuito do Mónaco de F1 com o meu carro. Emoção. Nostalgia. Felicidade. Ainda não saí e já sinto saudades. Aquilo deve ser o mais perto do sentimento de uma mãe que casa um filho. Ainda no Mónaco: um chá por 5 euros e 40, o mais caro da minha vida. E stands de automóveis de topo. Aston Martin, Maybach e Mercedes onde estava o exemplar mais fabuloso de todos os carros que vi, um Mercedes SLR desenvolvido pela McLaren [nota: para quem não souber do que estou a falar, é mais ou menos como quando uma criança de 6 anos entra na Disneylandia, quando o Sócrates pensa que o líder da oposição é o Marques Mendes ou quando o Mantorras acerta de facto na bola: o delírio completo ] .

5 - Em Itália a palavra caos ganha uma nova dimensão. O trânsito é qualquer coisa de indescritível: há scooters literalmente por todo o lado. Velhos, novos, gordos, magros, homens de 70 anos meninas de13. Tudo tem o raio de uma motoreta. Não pedem permissão para passar. Depois de um ou dois sustos resolvi mostrar do que um português é capaz ao voltante: guinadas, virar sem pisca, travagens. Abri os olhos a mais que um! [correm rumores que no norte de Itália foi decretado o estado de sítio durante dois dias]. O trânsito é difícil mas tão mais divertido que em França!

6 - Curiosidade italiana: As sanitas e os lavatórios das casas de banho são ENORMES! não me perguntem porquê mas não gosto de pensar o que se esconde nos intestinos transalpinos.

7 - Suíça. País do chocolate e das vacas com mamas grandes. À entrada das aldeias há o tradicional sinal a dizer "50" depois o sinal com o nome da terra e mais abaixo...hugh?... um sinal descritivo com o horário das... missas! ah pois meus amigos, que um gajo não vai à Suíça sem ir a uma boa "Messe Lundi às 6 e meia da tarde de DEUS!"

8- Chamonix: Monte Branco, glaciar, frio de rachar... jantarinho no McDonalds. Preço? 1 euro por hamburger. Onde está a boa velha exploração de um local turístico?

9 - Em Espanha restaurante manhoso com sopa de mosquitos. Sim, isso mesmo. E tortilha de varejas. Quando alertado para o facto de andarem insectos na comida, o dono: "Él calor!"

10 - A caminho para Andorra pelos Pirinéus faltam bombas de gasolina. Finalmente aparece uma. Não tem iluminação. Quando damos conta já metemos meio depósito. O espanhol que caiu na armadilha faz um estrilho brutal. Quase bate na família e diz que não paga. Saímos dali. Para voltar em menos de 5 minutos, não tinhamos gasóleo e conhecendo a minha tradição de depósitos secos...

11 - Andorra: Free Tax! Os supermercados até deixam provar os licores antes de comprar. Resultado: Bebedeira em jejum. Pela minha alma se eu não pensei que já não saía do parque de estacionamento. Passados 50 minutos já estava a ser fotografado num túnel por velocidade excessiva. Parece que não posso ir a Andorra nos próximos anos.

12 - A melhor rádio de todo o percurso, sem dúvida, a Rádio Nacional de Andorra seguida de perto pela Rádio Monte Carlo e pela Kiss Kiss [Itália] as piores... as espanholas. Surprise!
 
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sexta-feira, setembro 15, 2006
A espada de Maomé

Já recomeçou o delírio dos extremistas islâmicos por causa do discurso do Papa Bento XVI na Universidade de Regensburg, Alemanha. O parlamento paquistanês acusa o Papa católico de fazer comentários anti-islâmicos. E tudo porque Bento XVI afirmara que a jihad do Islão é contra Deus.

Até já há fogueiras nas ruas e mais haverá com certeza nos próximos dias, aliás como aconteceu com as caricaturas dinamarquesas de há uns meses atrás. É a oportunidade que faltava aos radicais, para voltarem a sair à rua e mostrarem a sua força em manipular corpos e almas.

A mensagem de Joseph Ratzinger é de paz, mas a resposta dos fanáticos é digna do tempo medieval. O Papa não quer ofender os crentes no mundo islâmico. Os fanáticos islâmicos é que se ofendem a si próprios, com a exibição doida de comportamentos de intolerância pura... Até na Turquia – país que quer aderir à nossa União Europeia – já se ouve um coro de protestos. Nestas pequenas coisas se vê como é o outro lado do mundo.
 
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segunda-feira, setembro 11, 2006
Schumacher über alles

16 épocas no mundial de Fórmula 1. Parece que ele esteve lá sempre. O maior campeão da História vai retirar-se. Apesar de quase sempre ter torcido pelos rivais [Damon Hill, Mika Hakkinen, Kimi Raikkonen] tenho que reconhecer que me vieram as lágrimas aos olhos quando o vi na conferência de imprensa dizer que se ia embora. Schumacher é o vilão que todos adoramos odiar. Porque é tão incrivelmente rápido, decidido e inteligente num carro de corrida, porque bateu todos os recordes significativos da F1, porque na ânsia de ganhar empurrou os companheiros algumas vezes fora da pista, porque mostrou aos "monstros sagrados" Piquet, Senna, Prost que não tinha medo deles, porque no fundo dominou a modalidade como nunca ninguém fez em mais de 50 anos.

Ele sempre foi a referência, a meta, o Bench Mark. E agora, aos 37 anos, deixa a Formula 1 orfã e entregue aos jovens lobos que lhe querem o trono.

Apesar de estar sempre do lado oposto, fiquei triste pela saída. Afinal, ele é o melhor piloto de sempre na minha lista. Foi um privilégio, Michael.
 
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Um cliché do 11 de Setembro

É comum repetir-se, não sei se por ligeireza de raciocínio, se por mimetismo social ou se por muleta de linguagem histórica, que o mundo mudou com os acontecimentos do 11 de Setembro. Afinal, o que mudou foi assim tão significativo?

É verdade que as companhias aéreas e as entidades aeroportuárias alteraram protocolos e reforçaram mecanismos de segurança. No plano político, os Estados serviram-se desses acontecimentos para restringir certas liberdades, negligenciar direitos conquistados a pulso, lançando uma cruzada global denominada de «guerra ao terrorismo», e que encontram referências nos voos da CIA e na prisão secreta de Guantánamo.

Mas será que o 11 de Setembro mudou mais o mundo que a tragédia do Ruanda, o desastre humanitário na região do Darfur, a calamidade da Sida e da malária que todos os anos vitimam em silêncio milhões de pessoas?

A economia, ao contrário do que fabricou a opinião publicada, não mudou. Os efeitos da alta do petróleo – e por diversas razões que não o 11 de Setembro - são francamente superiores aos danos causados pelo 11 de Setembro.

Em matéria religiosa, o debate pode ter crescido quantitativamente, mas numa escala de qualidade inferior, tal é a ignorância dos dois lados. O Ocidente insiste em meter todo o Islão no mesmo saco, incapaz que é sequer de distinguir um xiita de um sinita. Os Muçulmanos valoram como único o seu modo de vida, que a razão é deles e só a visão deles deve imperar. Como se vê, o ódio, a intolerância, a ignorância e a distância entre Cristãos e Muçulmanos é a mesma antes e depois do 11 de Setembro.

No plano político-militar, o que há de diferente a assinalar? Apenas que o Iraque e o Afeganistão deixarem de estar reféns ora de Sadddam Hussein ora de talibãs para passarem a ser dominados por líderes de uma estratégia perversa e inconsequente?

Além das guerras no Iraque e no Afeganistão, alguma coisa mais mudou?
Talvez nos tenhamos tornado cidadãos mais atentos, mais receosos quando entramos num avião. Já não podemos pensar que o azar apenas acontece aos outros.

No entanto, o mundo hoje não está mais pacífico nem mais seguro. O mundo de 12 de Setembro é praticamente idêntico ao mundo do 10 de Setembro. Poucas diferenças encontro. A humanidade continua a ser a mesma. O planeta teria certamente mudado se a malvadez e perfídia de certos seres humanos não tivessem adquiridos novas actualizações.

Concluo apenas que o 11 de Setembro nem deve ser desprezado nem, ao invés, sobrevalorizado. Devemos ter a sensatez de perceber que apenas é admissível a justa medida face ao que se passou há cinco anos. Quanto mais se relativizar, maior será o choque com novos trágicos episódios que venham a ocorrer no futuro. Quanto mais se sobredimensionar o que se passou, mais argumentos serão entregues de mão beijada a todos aqueles que se servem do poder para combater de forma cega e absurda o terrorismo.

Por isso, quando lhe disserem que o mundo mudou com o 11 de Setembro, pense duas vezes antes de interiorizar essa frase-feita. O cliché soa bem, mas verdade de fundo pouco contém. Não caia na ratoeira, porque temo que uma mentira, pregada muitas vezes, se possa tornar uma verdade.
 
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