terça-feira, maio 12, 2009
Cadernos de marca branca
Moleskine. Não sou um seguidor desta fabricação de Itália. São-me absolutamente indiferentes. O hábito aqui não faz o monge. Desconfio de quem os utiliza: ou é uma pessoa que sabe o que diz, depois de pensar, imaginar; ou então pertence à categoria dos contorcionistas, gelatina, plasticina. O Moleskine pode ser preto, com folhas presas, e outras aplicações, mas prefiro as folhas de jornais, os cadernos de capa azul, de argolas, perfurados, picotados, baratuchos, tamanho A4, A5, tanto me faz, com ou sem margens, as que eu quiser, até os posso adquirir na Feira da Ladra. Posso rasgar as páginas, de qualquer ângulo, quando e sem nenhuma razão social, dispor traços, riscos e rabiscos, desenhos impressionistas e tentativas desencantadas de reproduzir um retrato, uma paisagem concreta, um poema aniquilado à nascença. Não estou preocupado em saber o que vai ficar para a posteridade, no bonitinho do embrulho negro, porque a minha vontade em expulsar todos os monstros que trago dentro de mim, seres desordenados, míticos, perdidos, adormecidos, é mais forte que o cliché da matéria de cadernos de charme duvidoso - pois até os fanfarrões os exibem -, pomposos, caros e organizados pelo prazer dos outros. Sou dono dos meus próprios papéis. Do meu prazer. Dos meus cadernos. Sem marca, nada de elásticos, mas com espaço livre. Para os meus devaneios.
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, maio 12, 2009 | Permalink |


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