sexta-feira, setembro 03, 2010
“O melhor do mundo são as crianças”
(Torre de Babel)
A frase é de Fernando Pessoa e não é nada exagerada: “O melhor do mundo são as crianças”. São. E esta evidência pode ser ponto de partida para uma reflexão sobre o processo Casa Pia, com a leitura do acórdão marcada para sexta-feira.
É inegável: durante anos, décadas, centenas de crianças foram abusadas, violadas por figuras da esfera política, cultural e desportiva. Autêntica tortura, física e emocional, contra crianças que perderam a meninice e que se pensava estarem a salvo pelo Estado, quando, na verdade, o seu ente protector foi o principal lar que permitiu, consentiu ou foi negligente com actos de uma violência monstruosa e inaceitável.
O escândalo assumiu proporções mediáticas monumentais. Semana após semana, os jornais vertiam rios de tinta. Muita informação, igual proporção em chorrilho de contra-informação ou revelações contaminadas. Não fosse o papel da imprensa e este caso teria caído no esquecimento público e na impunidade judicial. Da mesma forma, percebe-se também que muito lixo tivesse sido difundido pelos órgãos de comunicação social, para lançar poeira sobre um caso que acalentava os sentimentos da opinião pública (ora servindo interesses de estratégias de advogados, ora servindo-se do calor do caso para conquistar audiências).
Antes sequer da decisão pela Justiça - e só haverá dignidade em todo este caso se realmente a sentença for justa, séria e irrepreensível – temos de compreender que, por mais páginas que o megaprocesso tenha, nunca se fará uma reparação integral e total dos danos sobre as crianças. Nunca mesmo. E mais ainda não se devia ter chegado ao ponto de um processo com estas implicações, demorar seis anos a chegar a uma primeira decisão. Está, claro, que os recursos seguir-se-ão como gafanhotos em tempos de praga. O Estado deveria ter disponibilizado todos os recursos para que rapidamente, tanto para arguidos e como para vítimas, se tomasse uma decisão mais célere. O povo não quer sangue, pretende apenas um passo em frente para um desfecho sincero, humano e imparcial em relação a este caso - o mais mediático e democrático desde a revolução do 25 de Abril. Ou cairá mais uma pedra no descredibilizado sistema judicial português.
 
Lavrado por diesnox at sexta-feira, setembro 03, 2010 | Permalink |


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