terça-feira, junho 22, 2010
Saramago – um paradoxo
Escrevemos o que queremos, e, se quisermos, nada escrevemos. Saramago morreu.
Declaração de interesses: da obra, nada conheço. Não houve um único livro que completasse a leitura, se calhar, por preguiça; sobretudo, porque o romance não é o meu género literário de feição. Prefiro a sua prosa em textos dispersos, sem drama, nem narrativa – e será mais fácil, começar pelos ensaios. Reconheço-lhe uma vontade perene em compreender a esfera do ser – e do não ser. Era um escritor criativo, com mensagens directas - declarava o que pretendia, sem rodeios.
No plano humano, José foi intolerante. Desde logo, porque não soube lidar com a Tolerância. O sentido de humanismo, que tanto pregou, morria na contradição de uma ideologia, de um pesadelo político, mesmo em teoria ou pensamento. Em nome desse ideal extremo, cruel e obsoleto, perseguiu, maltratou e tentou abafar a diferença do outro. A ideologia – e cada um segue a que entender – ofuscou-lhe a razão. O Comunismo mata a essência humana, a liberdade e o bem-estar, e José apenas dedicou demasiado tempo e texto à tentativa em matar Deus. Estranha contradição, para quem na cerimónia da entrega do Nobel, criticara o homem por chegar mais facilmente a Marte do que ao próprio semelhante. E Saramago, que se ocupara demasiado com a crítica a um Criador e uma Fé – para quê tanta página, em consciência, com algo que, na sua firme convicção, é uma invenção humana - e esquece a perseguição dos regimes socialistas? A tortura, a matança, o ódio, a decomposição persiste… no entanto, não a condenou?
Terceiro apontamento: Saramago escreveu 36 obras (?), alimentou deliberadamente, com a ajuda de uma imprensa de frase-fogacho e de uma intelligentsia despudorada, muitas polémicas, alcançou o reconhecimento internacional pelo comité Nobel, viveu em Lanzarote e amou Portugal de uma forma maldita e ahistórica – eu, que acredito em pátria-povo, território independente e único, recuso de todas as formas que Portugal se converta numa província de Espanha – e não me venham dizer que patriota é ser crítico. Uma coisa é a reflexão fria, outra é defesa da aniquilação de um Estado, com 900 anos de história, que criou um língua que é hoje o cordão mais forte de 240 milhões de pessoas.
Declaração de interesses: da obra, nada conheço. Não houve um único livro que completasse a leitura, se calhar, por preguiça; sobretudo, porque o romance não é o meu género literário de feição. Prefiro a sua prosa em textos dispersos, sem drama, nem narrativa – e será mais fácil, começar pelos ensaios. Reconheço-lhe uma vontade perene em compreender a esfera do ser – e do não ser. Era um escritor criativo, com mensagens directas - declarava o que pretendia, sem rodeios.
No plano humano, José foi intolerante. Desde logo, porque não soube lidar com a Tolerância. O sentido de humanismo, que tanto pregou, morria na contradição de uma ideologia, de um pesadelo político, mesmo em teoria ou pensamento. Em nome desse ideal extremo, cruel e obsoleto, perseguiu, maltratou e tentou abafar a diferença do outro. A ideologia – e cada um segue a que entender – ofuscou-lhe a razão. O Comunismo mata a essência humana, a liberdade e o bem-estar, e José apenas dedicou demasiado tempo e texto à tentativa em matar Deus. Estranha contradição, para quem na cerimónia da entrega do Nobel, criticara o homem por chegar mais facilmente a Marte do que ao próprio semelhante. E Saramago, que se ocupara demasiado com a crítica a um Criador e uma Fé – para quê tanta página, em consciência, com algo que, na sua firme convicção, é uma invenção humana - e esquece a perseguição dos regimes socialistas? A tortura, a matança, o ódio, a decomposição persiste… no entanto, não a condenou?
Terceiro apontamento: Saramago escreveu 36 obras (?), alimentou deliberadamente, com a ajuda de uma imprensa de frase-fogacho e de uma intelligentsia despudorada, muitas polémicas, alcançou o reconhecimento internacional pelo comité Nobel, viveu em Lanzarote e amou Portugal de uma forma maldita e ahistórica – eu, que acredito em pátria-povo, território independente e único, recuso de todas as formas que Portugal se converta numa província de Espanha – e não me venham dizer que patriota é ser crítico. Uma coisa é a reflexão fria, outra é defesa da aniquilação de um Estado, com 900 anos de história, que criou um língua que é hoje o cordão mais forte de 240 milhões de pessoas.
Mais homem da literatura do que propriamente das liberdades, Saramago foi a personificação de um paradoxo. E não restem dúvidas das suas qualidades literárias, apesar de não podermos, sob pena de praticarmos exercícios revisionistas, apartar o homem da sua obra.
Lavrado por diesnox at terça-feira, junho 22, 2010 | Permalink |
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