Quem viu terça-feira o episódio «Ganhar o pão - o que fazemos» da série «Portugal – Um Retrato Social» fica com mais certezas que dúvidas. O país está mesmo em maus lençóis. E esta conclusão se poderá extrair do país industrial, ou melhor, do país sem indústria, sem visão económica. De quem é a culpa, quando as fábricas fecham, os serviços funcionam mal e uma parte do povo vive agarrado às sete saias do Estado?

Obviamente, a culpa é dos governantes e dos empresários. Os primeiros porque distribuíram mal a riqueza, concederam subsídios a quem nem uma ponta de um fósforo merecia, optaram por políticas erradas sobre a economia, a agricultura e a relação sociedade/Estado. Os empresários, porque tiveram o dom de destruir em duas décadas o frágil tecido industrial. Que outra coisa se podia esperar de homens cuja visão não vai além dos Ferraris e vivendas para a família, esquecendo-se que a ausência de inovação e investimento tecnológico, condenariam as fábricas?

Se a metalurgia, a pesca, a indústria naval e a agricultura já fazem parte das estatísticas trágicas do passado, o têxtil, o calçado e a indústria automóvel para lá caminham. Inevitável este desfecho. E no meio do «desenrascanço económico» ficarão apenas alguns nichos de excelência para alimentar um orgulho pacóvio, mas todavia insuficientes para nos tirarem do atraso que sempre nos acompanhou. A solução final não é difícil de prever: a emigração - precisamente a hipótese de salvação, de refúgio para um povo que, não encontrando meios para ganhar o pão na sua sua própria terra, terá que partir.

[Nota final: Quem viu o documentário, compreende melhor por que é que os sociólogos também não têm emprego em Portugal. O seu pessimismo realista afasta-os de todas as possibilidades de encontrarem trabalho, ou sequer de pessoas que os ouçam por alguns minutos. Eles conhecem magistralmente o futuro, num país em que o amanhã não passa de uma repetição do que se passou exactamente ontem. Um espelho, afinal, à nossa frente.]