Acerca-se o Outono e as folhas que cobrem em manto o alcatrão escorregadio, e os ramos das árvores em trapos, e dos dias que começam a decrescer, com a retirada da luz e do sol a ensaiarem a entrada da dança do frio, e do vento, e da chuva, oh como eu gosto de vaguear pelas ruas, com as gotas que enxugam o rosto, naqueles instantes em que os sonhos são o bálsamo perfeito, e nas noites, aquece-me o céu, de estrelas escondidas, quando cai o Outono, a minha estação preferida, e a vinda das pontas dos dedos queimados com as castanhas que transbordam as mãos, os bolsos e o estômago preguiçoso, e também as nozes embalam o apetite, e queria compor, ou em verso solto ou em segredo estruturado, as palavras rarefeitas que baloiçam na alma perdida.
Imagem: Outono, do pintor José Malhoa, 1918.
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