terça-feira, setembro 21, 2010
O melhor amigo
Chamavamos-lhe "cão" ou "pochinho". Era tão desimportante que nunca nos demos ao trabalho de lhe dar um nome. Chegou naquela tarde de 1996, pequenino, desnutrido, cheio de medo e com um nagalho a fingir de coleira. Adonou-se logo do espaço de maneira tão poderosa como surpreendente. A partir desse momento deixou de ser possível enxotá-lo e esquecer aquele rafeiro. Sempre cheio de medo [seguramente vítima de abandono e maus tratos] ele tornou-se o meu melhor amigo de 4 patas. Nunca mordeu a ninguém, mas guardava. Não tinha o hábito de agredir os outros cães mesmo sendo eles mais pequenos, brincava e sorria como uma criança alegre e despreocupada. Era inteligente. Quando chegava da universidade carregado com o saco, ele sentia-me ao longe e ladrava. Não me conhecia. Mas bastava que eu dissesse "pochinho, então?" para ele mudar completamente a expressão, abanar o rabo e acolher-me amigavelmente. Lembro-me de termos outros cães mais bonitos e de raça, mas para mim aquele era sempre o melhor. Simples, rafeiro e bom.

Desapareceu há uns dias. Já com 14 anos, surdo, quase cego e frágil. Lembro-me de o ter visto pela manhã e lhe ter dito, "há muito tempo que não te faço umas festinhas, mas agora tenho que sair. Mais tarde". Devia tê-las feito. Tal como apareceu amedrontado e frágil assim desapareceu frágil e amedrontado. Nunca gostei tanto de um cão. Adeus pochinho.
 
Lavrado por Ice-device at terça-feira, setembro 21, 2010 | Permalink |


1 Comments:


At 10:17 da tarde, Anonymous Anónimo

o caniggia tinha 16 anos e também desapareceu há um mês. não é fácil dizer adeus.