sábado, junho 18, 2011
Farmville na Avenida da Liberdade

Portugal tem um mega pic-nic, hoje. Na Avenida com as lojas mais caras do prêt-à-porter do Portugal de serviços, plantaram uma horta nacional. Há quem lhe chame festa do campo e uma iniciativa que responde a um desígnio nacional. Uma famosa cadeia de supermercados patrocina a produção lusa - a mesma que ignora ou paga a muitos dias de atraso - e a Câmara Municipal de Lisboa, de cofres vazios, arrecada 100 mil euros. Parece que com este farmville de Lisboa, os alfacinhas já sabem distinguir uma alface de um nabo.
Estes eventos são demasiado folclóricos e se alguma lição retiro deste espectáculo, que o serviço público a caminho da privatização decidiu patrocinar, é que as pessoas gostam do campo, mas conhecem-no pouco. Nada. Bastava trocarem a praia durante um fim-de-semana por uma deslocação aos aromas reais de fora da cidade (Lisboa-Oeste, por exemplo). E podiam sentir Cesário Verde, sem ser em cima do alcatrão (com poemas eróticos e autênticos e não os jingles do pop star Tony Carreira).

De tarde, Cesário Verde
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
 
Lavrado por diesnox at sábado, junho 18, 2011 | Permalink |


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