terça-feira, setembro 13, 2011
A biblioteca

Frequentar uma biblioteca era uma descoberta. As horas passadas entre as estantes de livros e o silêncio consentido desde a entrada eram de satisfação. Hoje, ir a uma biblioteca de escola ou de universidade parece uma aventura jurássica e contra-indicada. Advertem-nos: é uma perda de tempo. Aconselham-nos: é mais fácil googlar ou pesquisar nos fóruns digitais.

Na pesquisa on-line, tudo é tratado com (pré)determinismo: até nos ajudam a escrever a palavra que pretendemos investigar, ainda antes sequer de ela estar totalmente grafada.

Querem ainda melhor exemplo de “Big Brother”? Guardam todos os pormenores das pesquisas que fazemos, até nos convidam a corrigir os erros e ainda nos propõem alternativas.

Da pesquisa resulta uma série de páginas impostas pela estratégia comercial do motor de busca. É como se fôssemos jogar às cartas e estivéssemos a ver os trunfos do parceiro. Ou como se fôssemos ao mercado e não tivéssemos oportunidade de regatear os preços. É um jogo sem chama, sem glória, sem probabilidades.

Numa biblioteca, além de poder requisitar ou levar alguns momentos daquele livro registado no catálogo bibliográfico, existe ainda a fascinante possibilidade de encontrarmos inesperadamente um livro que pode servir para o estudo em causa, para uma pausa de conhecimento e curiosidade ou para uma solução futura.

Rendemo-nos por completo ao facilitismo. A loucura é ainda mais exacta quando antes sequer de lermos Kant, já nos demos ao trabalho de ver tudo sobre o que os outros julgam sobre Kant e a multiplicação das metafísicas. Não é que não haja uma certa vantagem em ver tudo sobre o autor alemão em poucos minutos, antes ainda de lermos meia dúzia de linhas sobre alguma das obras. A questão não é contextualizar antes, é pensarmos que em poucos minutos já dominamos o pensamento e o objecto do autor/criador. E como ficamos omniscientes e deslumbrados com os resultados grandiosos da web virtual, caímos na tentação de prescindirmos de ler “A Fundamentação da Metafísica dos Costumes”. Passámos a agir de tal forma que a nossa máxima de googlar se tornou numa lei universal.

 
Lavrado por diesnox at terça-feira, setembro 13, 2011 | Permalink |


0 Comments: